Viva o Museu – 33 Anos da Inauguração

O Museu Regional Delmiro Gouveia foi inaugurado em 20 de fevereiro de 1989. A iniciativa para o surgimento do museu foi de Ivan Müller Botelho, gestor da então Multifabril Mercantil Nordeste S/A, que por meio da Fundação Ormeo Junqueira conseguiu capitalizar recursos, via Lei Sarney, junto ao Governo Federal, para a construção do museu.

Em 1986, “os mineiros”, como eram chamados os integrantes do Grupo Cataguases Leopoldina, adquiriram a Agro Fabril Mercantil (fábrica construída por Delmiro Gouveia) e mudaram a razão social para Multifabril Mercantil Nordeste S/A. À frente da fábrica, Ivan Botelho começou a conhecer a história da região e descobriu coisas interessantíssimas sobre a origem do município. Soube, por exemplo, que onde hoje é a cidade de Delmiro Gouveia, era apenas uma povoação cujo nome era “Pedra”, somente haviam meia dúzia de casas de taipas e existiu uma estação de trem vinte anos antes do Delmiro chegar por essas terras.

Surpreso, encontrou as ruínas do que tinha sido a estação da Pedra, inaugurada 1882. Viu que se tratava de uma estrada férrea com 116 km de extensão, ligando Piranhas-AL a Jatobá, atual Petrolândia-PE. Encantado, Botelho continuou a pesquisa em busca de mais informações sobre a ferrovia construída a mando do Imperador D. Pedro II e concluiu que de fato a estrada foi extremamente importante para toda região, pois por oitenta e um anos foi o principal meio de transporte do sertão do São Francisco.

A história da estrada Férrea Paulo Afonso conta que sua Majestade o Imperador queria desenvolver o Brasil por meio do potencial navegável do Rio São Francisco, que ele queria criar uma hidrovia para escoar a produção agrícola e pecuária de toda extensão do Baixo São Francisco. Para isso, em 1859, realizou uma visita técnica na região acompanhado por engenheiros, topógrafos e outros profissionais, a fim de estudarem a viabilidade do projeto.

Vieram pelo mar e foram subindo o rio a partir de Piaçabuçu, local onde o rio desagua. Navegando pelo “rio dos currais” ou Opará, nome de origem, os visitante desbravaram seu apogeu, a natureza em sua forma mais primitiva, majestosa tal como seus ilustres visitantes.

A agradável viagem fluía bem, navegação tranquila, paisagens deslumbrantes, tudo que indicasse o sucesso da hidrovia. O Rio da Integração Nacional estava caudaloso, profundo e largo, tudo perfeito para a navegação. Porém, ao chegarem em Piranhas, onde na atualidade está instalada a Usina de Xingó, se depararam com a presença das cachoeiras. Assim, tiveram de continuar a viagem nos lombos dos animais Caatinga a fora.

Durante dias, percorreram as trilhas da nossa Caatinga, margeando o rio até Jatobá (Petrolândia-PE). Tiveram de pernoitar em algumas localidades ao longo do caminho, a exemplo da Fazenda Salgado, atual Povoado Salgado, Município de Delmiro GouveiaAL. Esse pernoite fez com que a comunidade, tempos depois, homenageasse o Imperador nomeando a associação dos artesãos do local de Descanso do Rei.

Excursionando pelo Sertão, o Imperador enfrentou as dificuldades da natureza, hora por terra, hora por água, e descobriu a riqueza do bioma Caatinga no seu mais preservado estado. Vale lembrar que, nesta época não existiam estradas, apenas as trilhas feitas pelas pisadas de pessoas e animais. Os primeiros quinhentos e vinte quilômetros de estradas, ligando os estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco, foram feitos pelo pioneiro da eletrificação do Nordeste, Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, no início do século XX.

Dessa viagem, surge a necessidade de se implantar uma linha férrea para transpor o trecho encachoeirado existente de Piranhas-AL a Jatobá-PE. Assim, o fluxo da hidrovia acontecia da seguinte forma: os navios a vapor vindos do mar, partiam da foz até Piranhas. E aqui chegando, desembarcavam as mercadorias e pessoas e estas eram colocadas novamente nos vagões do trem, que a distribuía ao longo das oito estações até a antiga Jatobá. Lá, a navegação continuava e as grandes embarcações levavam as cargas, rio acima, para qualquer parte do Brasil e do mundo.

A pedra fundamental que marcava a construção da estrada foi colocada em 1878 e as atividades foram encerradas em 1964. De sessenta e quatro até meados da década de oitenta, a antiga estação da Pedra ficou abandonada, pois era patrimônio Federal e ninguém deveria se apossar indevidamente. Assim, a compra desse bem pela Multifabril Mercantil, na pessoa do Ivan Müller Botelho, colocou a história nos trilhos novamente, permitindo a preservação desse patrimônio histórico-cultural cujo valor é imensurável.

O Projeto de transformação do lugar em museu contou com uma equipe de profissionais de alto nível. Alguns trazidos de fora, outros, “prata da casa”. O desafio era restaurar a antiga estação nos mínimos detalhes, refazer cerca de 100 metros da linha com trilhos e dormentes, adquirir uma maria-fumaça e fazê-la funcionar a motor elétrico e criar um anfiteatro para exibição de filmes em eventos diversos. A principal atração do museu veio de Recife-PE, a locomotiva.

Vencidos os obstáculos, as reformas, as criações, as manutenções e tendo concluído as instalações elétricas, é hora da inauguração, um momento histórico aconteceu naquele 20 de fevereiro de 1989. A expectativa era enorme, pois tratava-se de um museu moderno com sistema de som e jogos de luzes e aparelhos sonoros que contavam a história do Delmiro, enquanto se fazia a visita.

E eis que chega o grande dia, dia de festa, a inauguração do museu. A população delmirense em peso compareceu, autoridades estiveram presentes e um jantar comemorativo foi oferecido a alguns convidados. O evento aconteceu envolto às músicas, luzes, discursos e emoções. Lembranças do passado embalaram os presentes, recordações da rotina da estação da Pedra surgiram e o apito do trem que por quase 100 anos ecoou pelo sertão formando coro com os passarinhos e com toda rica diversidade da Caatinga parecia se ouvir naquele instante mágico.

Quantas partidas, quantas chegadas, reencontros e despedidas. Quantos pisaram neste solo em busca de melhores condições de vida, a exemplo do próprio Delmiro Gouveia. Quantos se foram para nunca mais voltarem e quantos chegaram e nunca mais quiserem sair. Assim, o progresso foi se fazendo presente neste pedaço de chão, ao tempo que as marcas dessa gente foram sendo gravadas nas memórias da região.

A administração do museu ficou sob os cuidados da Multifabril Mercantil por apenas três anos. Em 1992, a fábrica foi vendida ao Dr. Carlos Benigno Pereira de Lyra Neto, mais conhecido como Carlos Lyra e, a partir desta data até os dias atuais, o museu vem sendo mantido pelo Grupo Carlos Lyra, por meio de uma de suas empresas em Delmiro, a Vila da Pedra Empreendimentos.

Atualmente, o Museu Regional Delmiro Gouveia passa por uma gestão inovadora, comprometida com a renovação do acervo, com a restauração da maria-fumaça a fim de resgatar o seu passeio original, e tem estimulado o público visitante a fazer uso dos espaços externos para piqueniques, visando o melhor aproveitamento da ampla área verde do local com suas frondosas árvores.

Também se tem estimulado atividades com os estudantes da rede pública e privada de ensino por meio de parcerias com as escolas da região. Muitas foram as atividades realizadas, como por exemplo: visitas técnicas, aulas de campo, encontros literários, comemorações do dia do estudante e da criança, entre outros.

Os eventos têm sido constantes, tanto as produções da casa como de terceiros. Os artistas da região estão sendo valorizados, são convidados para mostrarem seus talentos, sendo as atrações das festas promovidas e, em contrapartida, o Grupo oferece sua divulgação gratuita nas Rádios Delmiro, da Vila e redes sociais em geral.

O fluxo de visitantes tem sido satisfatório, desde a população local, dos municípios vizinhos e turistas de toda parte do país e do mundo. As visitas podem ser guiadas ou não, fica à escolha de cada um. De terça a domingo, das 14 às 20h, com entrada gratuita, o museu está de portas abertas para receber o público em geral, encantando a todos com as histórias da região.

Os investimentos não param de acontecer, a família Lyra nas pessoas de Dr. Fernando Farias e das senhoras Nancy Virginia Karns Lyra e Elizabeth Lyra têm se dedicado na manutenção desse estimado patrimônio cultural. Assim, o legado do Delmiro Gouveia e a história da estrada férrea Paulo Afonso são preservadas neste patrimônio 100% privado.

Acompanhando a tendência do mundo digital, o museu dispõe de Instagram e site com conteúdo de qualidade, sendo ferramenta de divulgação e instrumento de pesquisa para estudantes e amantes das histórias do Sertão. Além disso, as duas emissoras do Grupo em Delmiro Gouveia têm sido outro importante canal de propagação para o museu. Recentemente, lançamos o quadro “Minuto Museu”, que tem por objetivo fazer com que o museu esteja presente no dia-a-dia das pessoas por meio das Rádios Delmiro e Vila, assim como de suas redes sociais. Em síntese, o quadro é a história do próprio museu, estrada de ferro Paulo Afonso, do Delmiro Augusto da Cruz Gouveia e da região contada em pequenos trechos.

E, para perpetuar à sua existência e facilitar a captação de recursos para o retorno da operação da maria-fumaça, assim como a modernização do museu, a fim de torná-lo totalmente digital e com animação em tamanho real, seus proprietários resolveram transformá-lo em fundação, a Fundação Museu Regional Delmiro Gouveia, que já está sendo criada.

Outra novidade é a aquisição de novas peças de exposição pela atual gestão. Neste aniversário de 33 anos, o patrocinador oficial do museu, “o loteamento Vila da Pedra 1”, presenteou o museu com a compra de obras de arte de alto nível e que se encaixam no contexto histórico do equipamento, enriquecendo ainda mais o acervo.

Por fim, pesando em diversificar a experiência dos nossos visitantes, sobretudo dos turistas, viu-se a necessidade de investimentos em um Food Truck que agregasse valor ao espaço. E, felizmente, a parceria com as marcas Maria Bonita e Maria Fumaça tem sido um sucesso. A cerveja artesanal, produzida no nosso município, dá originalidade ao produto e vem agradando os consumidores. Já o Bistrô Maria Fumaça, se destaca nos pratos regionais e hambúrgueres artesanais, combinação prefeita para quem procura
história e lazer num só lugar!

Museu Regional Delmiro Gouveia, um patrimônio 100% privado e mantido pelo loteamento Vila da Pedra 1.

O museu funciona de terça a domingo, das 14 às 20h com entrada gratuita.

Autoria textual: Maria Edilene Vieira Nunes / Bacharela em Turismo